Dia 31 de março traz o
espectro de uma infelicidade. Foi num mesmo dia 31 de março, há 50 anos atrás,
que o Presidente João Goulart foi deposto por uma aliança cívico- militar que
imporia no Brasil longa ditadura dos generais.
Cinquenta anos não é
tanto tempo assim. Aos que foram torturados, perseguidos, ameaçados, às famílias
que perderam seus filhos, aos filhos que perderam seus pais, ao povo brasileiro
que foi amordaçado, à humanidade que teve parte de sua população violentada,
cinquenta anos estão aqui, em mais um dia 31 de março, tão presentes e reais na
lembrança dos que viveram os dias de chumbo e na consciência dos que analisaram
a história.
Cinquenta anos após mais
de vinte anos de ditadura no Brasil traz a lembrança necessária para o repúdio
a algo tão grotesco. É lembrar para que nunca mais aconteça, para que nunca
mais se repita.
Não há argumento algum
que justifique a violência de calar e não se permitir manifestações contrárias.
Não há regime político legítimo que se apóie na força e não respeite a
democracia do voto, da escolha, da liberdade. Não há nação desenvolvida onde
seu povo é oprimido e seu trabalhador não é livre.
A imposição de
pensamentos e interesses é a mais clara expressão do desrespeito e da violência.
Nenhuma ditadura que ocorreu até hoje foi boa. Todas elas deixaram como legado,
atrocidades e retrocessos. O que se verificou em todas elas foi a defesa
incontestável, não aberta ao diálogo, dos interesses da elite econômico-financeira
que sempre dominou o poder e que não admite qualquer projeto de reforma
institucional que possa ameaçar seus privilégios, e assim passa a atropelar qualquer
outra opinião ou defesa que seja divergente de seus interesses. Assim fizeram
no Brasil, atropelando as pessoas e queimando os votos dados em eleições democráticas
para a escolha de candidato que levou à Presidência da República quem não
satisfazia às vontades dessa elite.
Jango foi o Presidente
deposto e todo o povo brasileiro vítima de um golpe.
Por mais difícil que
possam ser os desafios da democracia, ela é absolutamente o contrário de uma
ditadura. Ela propõe liberdade e igualdade, valores que nos permitem dialogar e
evoluir. Ou não será o diálogo nossa maior fonte de evolução?
Desse modo, embora
fracassadas, é espantoso ter vivenciado recentemente manifestações favoráveis a
um novo golpe militar no Brasil. Com todos os obstáculos que ainda temos que
superar no país, vivemos uma democracia, que permite inclusive, críticas cotidianas divulgadas pelas mesmas
elites golpistas de outrora, através de veículos de comunicação.
Olhar para a história é
buscar o aprendizado para evitar que os mesmos erros do passado sejam cometidos
novamente no presente e nos façam sofrer ainda mais no futuro.
Após tantos anos do
golpe militar no Brasil o mesmo povo que foi escravo de mentes reacionárias e
almas tiranas tem o poder proveniente do aprendizado da história de não ser
mais escravo de ninguém. O sacrifício de todos aqueles que lutaram contra a
ditadura, contra a espoliação do Brasil, contra a espoliação do povo, pode sempre
nos servir de estandarte e imbuir nossos espíritos para que a liberdade e o
respeito sejam sempre mais fortes do que a tirania.
Raquel Montero
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