Raquel Montero

Raquel Montero

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Eu continuo caminhando, e no sentido do horizonte, onde está a utopia

 

Esse lado da minha vida acabou de completar 08 anos. Quando criei esse blog, em 01 de Janeiro de 2012, eu sentia muita necessidade de exteriorizar, de colocar para fora pensamentos, ideais e utopias, e mais do que colocar para fora, eu sentia necessidade de compartilhar isso com as pessoas, conhecidas e que eu ainda ia conhecer, e com isso dividir indignações e somar projetos, conhecimentos, aprendizados, tristezas e alegrias. A idéia deu certo e se tornou um construtivo caminho na minha vida.

 

 Muitas pessoas conheci através deste blog, outras, que eu já conhecia, aprofundei os vínculos, vivendo, assim, experiências muito significativas com pessoas guerreiras, militantes sociais, idealistas. Foi me expressando aqui que busquei mais conhecimento e aprendi mais, muito mais. Foi me expressando aqui que fui gostando cada vez mais de escrever, de fazer e propor revoluções através da escrita, da palavra, das manifestações e dos movimentos sociais. Aqui cresci, amadureci e me reinventei. E assim como eu, o blog também foi se transformando com o tempo, talvez se reinventando também, ele a mim e eu a ele.

 

 Passados esses 08 anos me sinto encerrando alguns ciclos em minha vida, dentre eles, esse blog. Os projetos e utopias não se encerraram para mim, ao contrário, se tornaram mais elaborados e aperfeiçoados, frutos do que só o tempo faz com as pessoas e as ideias. Assim como a vida, eles estão em constante mudança e mudança de formas de se expressar também. Outras formas de me expressar e projetos em torno disso estão em efervescência na minha imaginação, e sinto que é hora de dar vida à essas outras formas.

 

Foi muito bom crescer e amadurecer aqui e com todas as pessoas com quem aqui fiz trocas de vida, me fez muito bem, contribuiu em diferentes aspectos da minha vida. Faço a última publicação do blog citando o mesmo Fernando Birre, que também iniciou o blog, lá atrás, há 08 anos, e que também sempre esteve na capa e na apresentação do blog, no lado direito; "Para que serve a utopia então? Serve para isso; para que eu não deixe de caminhar."

 

 Eu continuo caminhando, e com passos cada vez mais confiantes, serenos, fortes, e, claro, no sentido do horizonte, buscando a utopia. Há linhas espiritualistas que defendem que o número 8 representa o infinito. E há idealistas que defendem que a busca pelas utopias sempre existe dentro de quem tem esperança e que acredita que milagres só acontecem quando vamos à luta.

 

Abraços amorosos e boa luta para todas e todos nós!

 Raquel Montero

E NA PANDEMIA QUEM NOS SALVOU FORAM AS ESTATAIS

Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna em sua edição do dia 27.01.2021. No Jornal Tribuna o artigo também pode ser acessado na internet através do link:

https://www.tribunaribeirao.com.br/site/e-na-pandemia-quem-nos-salvou-foram-as-estatais/




Foto: Reprodução

 

O Governador do Estado de São Paulo, João Dória, do PSDB, desde que foi eleito em 2018 declarou várias vezes que quer privatizar tudo que puder no Estado de São Paulo. Em âmbito nacional, o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro (sem partido), também anunciou várias vezes desde o início de seu (des) governo, em 2019, a intenção de vender as principais empresas estatais federais.

 

Ambos os governantes falam de suas vontades, sem, contudo, fundamentá-las em experiências exitosas, o que demonstra imprudência e ignorância por parte deles. Cabem as perguntas, então; Por que vender o patrimônio público? Qual serviço público se tornou melhor ao ser privatizado?

 

Não bastasse a falta de respostas fundamentadas à essas perguntas, aqui no Brasil, em 2020, veio a pandemia pela Covid-19, e mais essa situação confrontou de maneira categórica Dória e Bolsonaro sobre esse assunto, escancarando suas contradições sobre o tema, bem como, desconhecimento. 

 

A pandemia no Brasil mostrou que foram justamente as instituições estatais que trouxeram a tábua de salvação para o povo brasileiro, não foram empresas privadas ou privatizadas, foram instituições públicas, quais sejam; o Sistema Único de Saúde (SUS), a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), todas essas instituições públicas.

 

O SUS, inegavelmente, é o grande responsável no Brasil pelo atendimento e tratamento das pessoas infectadas pelo vírus. Se não fosse ele a maioria da população não teria para onde ir ao ser infectada e o número de mortes no Brasil seria muito maior.

 

O apoio do BNDES às empresas brasileiras no enfrentamento da pandemia alcançou R$ 154 bilhões no ano passado. Os recursos beneficiaram cerca de 390 mil empresas, que respondem pela geração de mais de 9,5 milhões de empregos. A informação foi divulgada no início deste ano pelo BNDES. Qual banco privado ou instituição financeira privada existente no Brasil fez algo do tipo para combater os prejuízos da pandemia na economia brasileira?

 

Na liberação dos valores o BNDES deu prioridade a micro, pequenas e médias empresas e micro empreendedores individuais, e as grandes empresas também foram atendidas pelas linhas de crédito do BNDES. Dos R$ 154 bilhões destinados às empresas brasileiras, R$ 20 bilhões foram repassados em março do Fundo PIS-PASEP, administrado pelo BNDES, para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Isso permitiu que pessoas físicas fizessem saques emergenciais e destinassem parte dos recursos ao consumo.A CEF adotou desde o início da pandemia no Brasil medidas de flexibilização de crédito e congelamento de cobrança de dívidas como uma forma de aliviar os impactos econômicos do Coronavírus, que, especialmente à classe trabalhadora mais pobre, tem potencial agressivo de riscos à saúde e às finanças. O pacote de ações inclui pessoas físicas e empresas, opções para quem financia moradia pelo banco e, também, diminuição dos juros e novos fundos e linhas de crédito para hospitais. Mais uma vez, não foi um banco privado que adotou tais medidas, mas, sim, um banco público.

 

E o Instituto Butantan na pandemia que no Brasil leva à morte cerca de mil pessoas por dia? A vacina contra a Covid-19, a "Coronavac", desenvolvida pelo Butantan há cerca de seis meses em parceria internacional com a biofarmacêutica Sinovac Biotech, sediada em Pequim, obteve 50,38% de eficácia global no estudo clínico desenvolvido no Brasil, além de proteção de 78% em casos leves e 100% contra casos moderados e graves da COVID-19. Todos os índices são superiores ao patamar de 50% exigido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo reconhecida como uma das vacinas mais seguras do mundo contra a Covid-19.


O Butantan é uma instituição pública do Estado de São Paulo considerada como um dos principais centro científicos do mundo, é o principal produtor de imunobiológicos do Brasil, responsável por grande porcentagem da produção de soros hiperimunes e grande volume da produção nacional de antígenos vacinais, que compõem as vacinas utilizadas no Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. 

 

E a Fiocruz? A Fiocruz é a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, e junto com o Butantan, a Fiocruz tem desempenhado papel central no enfrentamento da pandemia. No campo da produção de vacinas para Covid-19, a principal aposta da Fiocruz foi um acordo com a biofarmacêutica AstraZeneca para produzir, no Brasil, a vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford, a chamada "vacina de Oxford".

 

Ambas as vacinas, do Butantan e da Fiocruz, foram aprovadas no último domingo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que reconheceu a segurança e eficácia delas e autorizou o uso emergencial das duas vacinas. Um dia histórico para essas instituições e para o Brasil.

 

E ai cabe mais uma pergunta, a última pergunta desse texto; E se Dória e Bolsonaro já tivessem conseguido cumprir com o que queriam, de vender e privatizar tudo que existe de instituição pública em suas respectivas esferas de governo? A resposta; no Brasil não teria existido, ainda, tábua de salvação para o povo brasileiro, porque foram essas instituições públicas que vieram nos salvar durante a pandemia. Lutemos por elas!

 

Raquel Montero

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O que a vida quer da gente é coragem

Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna em sua edição do dia 06.01.2021. No Jornal Tribuna o artigo também pode ser acessado na internet através do link:

https://www.tribunaribeirao.com.br/site/o-que-a-vida-quer-da-gente-e-coragem/




Foto: Reprodução

 


Acima de tudo 2020 foi um ano de pandemia que levou muitas pessoas e que deixou diferentes reflexões.

 

A necessária medida de isolamento social, recomendada pelas autoridades médicas e sanitárias, dentre elas, a Organização Mundial de Saúde (OMS), como medida mais eficaz no combate ao vírus, trouxeram junto, apesar dos pesares, uma fértil oportunidade de nos voltarmos para dentro, já que não podíamos ir para fora - e a recomendação é que continuemos não indo - e com isso refletirmos mais sobre a vida e todos os aspectos sociais que a preenchem e que nos faz coexistir em sociedade, como uma grande fraternidade universal que, se não somos ainda, é o que deveríamos ser e buscar ser.

 

São os conflitos entre as pessoas que fazem com que direitos humanos e sociais tenham que ser reivindicados, do contrário, se não existissem conflitos, não teria reivindicação. E essa situação é uma grande demonstração, portanto, do muito que ainda temos que evoluir.

 

Essa evolução é absolutamente possível, e todas as pessoas têm a capacidade de ser mais e melhor. E quando nasce um ano novo é comum que se pense em mudanças, em tudo aquilo que não se quer mais e tudo aquilo que se quer conquistar. A evolução e a mudança são possíveis desde que se tome decisão para isso, e se misture a ela quatro outros ingredientes ou valores: amor, luta, esperança e conhecimento.

 

Só o amor constrói, e constrói quando lutamos. Milagres acontecem quando vamos a luta. E o que nos alimenta na luta é a esperança e o conhecimento, que não só liberta, como, também, nos emancipa da ignorância que tanto mal produz.

 

É possível as mudanças que queremos ver acontecer porque temos a força motriz que tudo move nas engrenagens da vida. Não é por outra razão que, segundo o Cristianismo, o Pai teria dito: "sóis deuses". E como deuses ele teria explicado que cada pessoa é capaz de fazer tudo aquilo que pede ao próprio Pai. As pessoas, então, carregariam dentro de si, em sua centelha divina, a força e a capacidade de realizar mudanças, em suas própria vidas e na sociedade. No mesmo sentido o filósofo, escritor e educador indiano Krishnamurti afirmava que o autoconhecimento era a chave para solucionar os problemas humanos, e a urgente mudança social só seria possível a partir de uma transformação individual (Krishnamurti, o Livro da Vida, São Paulo, 3º Ed. Academia, 2.016).

 

Na trilha da evolução é imprescindível também que cada pessoa seja responsável por seus atos e pensamentos e o que eles geram em sua vidas, nas vidas das outras pessoas e na vida como um todo, no mesmo espírito que pregou Gandhi incansavelmente; "que cada pessoa seja a mudança que quer ver no mundo". Tomar decisões sem se responsabilizar pelos próprios atos e as consequências deles é o mesmo que dizer "eu quero e sou capaz, mas não tenho coragem de assumir riscos e dificuldades, e, muitas vezes, erros." Como se avança sem correr riscos?

 

E ai, então, para viver se verifica a necessidade de mais um ingrediente ou valor a se somar aos outros; a coragem. Para viver é preciso ter também "coragem", que, por sua vez, decorre e é alimentada pela esperança, porque "o contrário do medo não é a coragem, é a fé", como bem explicou Frei Betto, e da fé vem a coragem para agir. E no mesmo sentido, em versos que acaloram e estimulam a alma, Guimarães Rosa teria eternizado esse mandamento da vida: "A vida é assim; esquenta e esfria, aperta e dai afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

 

O que a vida quer da gente é coragem, hoje e sempre. Coragem para decisões, para agir, para viver e, sobretudo, para amar. Feliz 2021!

 

Raquel Montero

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A difícil e corajosa atitude de denunciar o assediador





Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna em sua edição do dia 09.12.2020. No Jornal Tribuna o artigo também pode ser acessado na internet através do link:

https://www.tribunaribeirao.com.br/site/a-dificil-e-corajosa-atitude-de-denunciar-o-assediador/






Na última sexta-feira, dia 04, a atriz e humorista Dani Calabresa publicou um texto em suas redes sociais denunciando os assédios sexuais que sofreu de Marcius Melhem, ator, roteirista, diretor e coordenador do departamento de humor da emissora Globo.

 

Os detalhes dos assédios foram publicados pela Revista Piauí, para quem Calabresa deu depoimento. Para a reportagem, que pode ser utilizada como denúncia em processos judiciais, foram ouvidas 43 pessoas em conversas presenciais, virtuais ou por meio da troca de mensagens de texto ou áudio. Entre elas, duas vítimas de assédio sexual de Melhem, sete vítimas de assédio moral e três vítimas dos dois tipos de assédio, o sexual e o moral. Calabresa ainda tem mensagens de celular como provas dos assédios.

 

A atitude difícil e corajosa de Calabresa motivou outras mulheres, também vítimas de Melhem. Mais cinco mulheres, pelo menos, denunciaram Melhem por assédio sexual. Três delas falaram que ele costumava encostar-se nelas roçando o pênis ereto. “Ele fazia isso até quando me encontrava nos corredores. Sempre em tom de brincadeira, como se o lugar fosse apertado demais e fosse impossível não encostar em mim”, relatou uma delas. Outra atriz contou que Melhem a visitou em seu apartamento, para onde ela acabara de se mudar, quis conhecer seu quarto e, ao chegar ali, expôs sua genitália. Outra relatou que ele apareceu de surpresa em sua casa, dizendo que, ao passar casualmente pela região, resolveu visitá-la. Enquanto conversavam sobre a carreira dela na televisão, ele tentou agarrá-la.

 

Para chegar nesse ponto, no entanto, o caminho foi árduo para Calabresa. Ela denunciou os fatos para sua empregadora (Globo) várias vezes, através de diferentes instâncias, e fez isso porque conforme ia denunciando e não recebia retorno da denúncia feita e para não deixar o assunto morrer, buscava novos caminhos.

 

Calabresa fez o certo ao denunciar e ao não desistir da denúncia, porém, ao fazer isso, a cada vez que tinha que falar do assunto para as novas instâncias da empregadora ela revivia os assédios pelos quais passou, o que se torna mais uma agressão para a vítima, uma revitimização acompanhada da ojeriza de reviver, agora publicamente, a dor e o constrangimento pelos quais passou.

 

Por cada instância da empregadora Globo que Calabresa passou para denunciar os assédios, e segundo ela relatou foram pelo menos três instâncias, ela ficou horas falando, sendo indagada e respondendo, chegando a ficar cinco horas em uma dessas reuniões. A própria legislação já reconheceu o caráter maléfico e de nova agressão desse procedimento, e buscando combater isso a Lei Maria da Penha estabeleceu em seu artigo 10-A, § 1º, inciso III, a não revitimização da vítima com repetitivos depoimentos.

 

Mas a incompetência e o desrespeito da Globo em lidar com o assunto não parou por ai. Diante das denúncias a empregadora Globo não emitiu decisão e manteve o caso em sigilo, o máximo que fez até agora, após quase um ano da denúncia recebida, foi sugerir a Melhem, como resposta às denúncias de assédio, que ele fizesse terapia. Quase um presente pelos assédios praticados.

 

 E embora a Globo não tenha tomado lado, Melhem, após 17 anos na emissora, não trabalha mais na Globo após as denúncias feitas por Calabresa nas redes sociais e na imprensa. No comunicado público de desligamento de Melhem a Globo ainda fez elogios a ele e nada falou das denúncias de assédio.

 

Um chefe assediador deixa para trás, por onde passa, uma terra arrasada no que se refere aos aspectos psicológicos, mentais e emocionais da pessoa perseguida. São homens que instrumentalizam sua posição de poder hierárquico para assediar sexualmente as mulheres cujas carreiras dependem deles. Precisa de tratamento uma pessoa assim, para tratar essa mente deturpada e esse caráter covarde e apresender a respeitar que "não" é "não"? Claro, se trata de uma pessoa mentalmente doente e talvez de um psicopata, mas, para além disso, também precisa responder pelo mal  que fez, sendo responsabilizada pelos seus atos e praticando, da melhor forma, a reparação dos prejuízos.

 

E quem se omite diante de uma denúncia de assédio sexual e moral já fez uma escolha; a de ser conivente e tolerante com o assediador e o assédio, do contrário, não ficaria na omissão. A omissão é uma escolha, a escolha do não-agir e se tornar conivente. A história, por sua vez, é implacável no reconhecimento de quem fez, de quem não fez e do que foi feito. Após a atitude corajosa e das pedras no caminho, Dani Calabresa recebeu uma chuva de apoios de personalidades famosas, dentre elas, colegas de trabalho dela e de Melhem. Já Melhem perdeu o emprego, o respeito e a máscara. 

 

Raquel Montero

Dia 08 de Dezembro se comemora o Dia da Justiça


 


Hoje, 08 de Dezembro, é dia da Justiça.

 

A justiça deve ser buscada por todas as pessoas, nas suas relações consigo e com a outra pessoa, porque é com justiça que se vive em paz e sem ela não há paz nem de consciência, nem de espírito, nem social. Do mais simples ato ao mais complexo e, principalmente quando não tiver ninguém olhando, nossas atitudes devem se pautar pelo que é a justiça do caso concreto, e um exercício simples de se fazer para saber se o que estamos fazendo é justo é o exercício de se colocar no lugar da outra pessoa. E esse é o exercício da empatia também, sempre tão necessária e construtiva.

 

Nesse dia 08, então, que nos remete à reflexão da "Justiça", sigamos firmes na atitude corajosa de fazer sempre o que é o justo, que muitas vezes não será o caminho mais fácil, mas será o caminho certo, o lado certo da história, e por isso mesmo sempre valerá a pena.

 

A foto que acompanha esse texto se refere ao movimento popular do qual eu fiz parte como cidadã e como advogada voluntária na defesa de direitos humanos para protestar contra o aumento abusivo e inconstitucional de mais de 100% no IPTU de 2013, proposto pela ex-prefeita Dárcy Vera e aprovado por maioria do Legislativo Municipal da época. Eu estive desse lado da história.

 

Raquel Montero

 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

"Triunfar na vida não é ganhar"

Foto: Reprodução

 


O senador José Alberto Mujica Cordano, ou, simplesmente Pepe Mujica, aos 85 anos renunciou ao cargo de senador do Uruguai, se despedindo no dia 20 de Outubro do parlamento uruguaio com um discurso de nove minutos, com o qual também se despediu da política.

 

Mujica foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, símbolo do combate à ditadura militar no Uruguai, nasceu em Montevidéu em 1935 e entrou em 1964 no grupo guerrilheiro "Movimento de Libertação Nacional―Tupamaros". A ditadura militar o manteve preso por um total de 15 anos, incluindo um período de 12 anos seguidos que terminou em 1985. Em 1985, com o retorno à democracia, Mujica foi beneficiado por uma anistia geral decretada para pacificar o país. Voltou, então, à política institucional. Foi eleito deputado, senador, foi ministro da Agricultura, presidente do Uruguai e, por fim, novamente eleito senador.

 

Algumas das medidas mais emblemáticas do mandato de Mujica como presidente foi a descriminalização do consumo da maconha, o direito ao aborto e a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. A legalização do consumo de maconha foi utilizada como medida de combate ao narcotráfico e de saúde pública. O Uruguai se transformou no primeiro país do mundo a fazer isso. Sobre o direito ao aborto, antes de partir para o procedimento as mulheres deverão passar por acompanhamento médico e psicológico e terão a opção de desistir da decisão a qualquer momento. Sobre o casamento homoafetivo disse Mujica: “O casamento homossexual é mais velho que o mundo. Tivemos Julio Cesar, Alexandre O Grande. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo do que nós todos."

 

Em sua carta de renúncia ao Senado uruguaio  explicou que tomou tal decisão em razão de sua saúde diante da pandemia. O discurso de Mujica encantou o mundo. O motivo do encantamento vem da simplicidade das mensagens que contém o discurso conjugada com a profundidade e sinceridade delas. E simplicidade é uma das características que sempre fizeram parte da descrição que as pessoas fazem sobre a pessoa e o político "Pepe Mujica".

 

Mujica é conhecido como "o presidente mais pobre do mundo", embora ele insista que não se trata de "pobreza", mas, sim, de "sobriedade". Disse Mujica; “Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade.”

 

Mujica vive em uma simples, pequena e humilde chácara em Rincón del Cerro, a 20 minutos de Montevideo, tem como veículo um Fusca azul. Ficou conhecido como o presidente mais pobre do mundo por viver com apenas 10% de seu salário e na oportunidade de tomar essa decisão declarou; “as repúblicas não vieram ao mundo para estabelecer novas côrtes, as repúblicas nasceram para dizer que todos somos iguais. E entre os iguais estão os governantes”. Para ele, não somos uns mais iguais que os outros.

 

Em seu discurso de renúncia, esse homem de vida simples e carreira admirável disse: "Eu tenho minha boa quantidade de defeitos. Sou passional. Mas em meu jardim faz décadas que não cultivo o ódio. Porque aprendi uma dura lição que a vida me impôs, que o ódio termina te deixando estúpido, porque nos faz perder objetividade diante das coisas. O ódio é cego como o amor. Mas o amor é criador, o ódio, não, destrói."

 

E disse também; "Quero também transmitir aos jovens. É preciso agradecer pela vida. Triunfar na vida não é ganhar. Triunfar na vida é se levantar e começar de novo cada vez que se cai."

 

Em tempos de tanta violência, nas palavras e nas atitudes, essas frases chegam como vento no moinho, trazendo para cima o que às vezes ficou embaixo. E para quem já aprendeu que melhor do que aprender com erros é aprender observando a vida que nos rodeia, as mensagens de despedida de Mujica são grandes e eloquentes aprendizados. E jovens, para quem Mujica destinou sua mensagem final, são todas as pessoas com espírito livre para estar sempre aprendendo em qualquer idade.

 

Raquel Montero

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Se estava embriagada, é estupro

Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna em sua edição do dia 28.10.2020. No Jornal Tribuna o artigo também pode ser acessado na internet através do link:

https://www.tribunaribeirao.com.br/site/se-estava-embriagada-e-estupro/




Foto: Reprodução

 


A cada 08 (oito) minutos uma pessoa foi estuprada no Brasil em 2019. Foram mais 66.123 casos registrados nas delegacias de todo o país.  Em quase 85,7% deles, as vítimas eram mulheres, o que revela que a violência de gênero ainda é uma realidade sombria e que precisa ser combatida. Os dados são da última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

 

Eles foram divulgados em um contexto em que o crime de estupro ganhou força na imprensa com o caso do jogador de futebol Robinho, condenado em 2017 em primeira instância pelo Tribunal de Milão, na Itália, a nove anos de prisão pelo crime de violência sexual em grupo, formado por 06 (seis) pessoas, contra uma jovem albanesa de 23 anos.

 

Diálogos do jogador obtidos através de interceptações telefônicas gravadas com autorização da Justiça italiana foram determinantes para a condenação do jogador Robinho e Ricardo Falco, seu amigo, e foram transcritos na sentença. Os diálogos gravados foram divulgados com autorização judicial, e neles o jogador Robinho e seu amigo Ricardo Falco mostram que tinham consciência que a vítima não estava em condições de dar consentimento, que estava alcoolizada, e demonstram preocupação com a possibilidade de ela registrar uma denúncia. A ver alguns dos diálogos;

 

Falco: Ela se lembra da situação. Ela sabe que todos transaram com ela.

Robinho: O (nome do amigo) tenho certeza que gozou dentro dela.

Falco: Não acredito. Naquele dia ela não conseguia fazer nada, nem mesmo ficar em pé, ela estava realmente fora de si.

Robinho: Sim.

 

Isso é estupro. Praticar ato sexual com alguém que "não conseguia fazer nada, estava fora de si" é estupro.

 

Jairo Chagas, músico que tocou naquela noite no local, teria avisado o jogador Robinho sobre a investigação. O jogador, então, respondeu: "Estou rindo porque não estou nem ai, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu."

 

Isso é estupro. Praticar ato sexual com uma mulher que está bêbada é estupro, porque ela não está com consciência, está em condição de vulnerabilidade e não tem condições de dar consentimento. Está exatamente como disse o amigo do jogador Robinho, "fora de si".

 

Em outra conversa com o músico, o jogador Robinho disse:

Robinho: A Polícia não pode dizer nada, eu direi que estava com você e depois fui para casa.

Jairo: Mas você também transou com a mulher.

Robinho: Não, eu tentei. (nome de amigo 1), (nome de amigo 2), (nome de amigo 3)...

Jairo: Eu te vi quando colocava o pênis na boca dela.

Robinho: Isso não significa transar.

 

 Em interrogatório o jogador negou o abuso mas admitiu ter ocorrido a prática de sexo oral na jovem de 23 anos. Em outras conversas gravadas o jogador disse que os outros cinco amigos tiveram relação sexual com a vítima e que ele tentou ter, e que recebeu sexo oral da vitima e que isso não significa transar. O abuso foi praticado por 06 pessoas, incluindo o jogador Robinho.

 

O caso ganhou repercussão internacional, e aqui no Brasil causou muita indignação contra o jogador. Tamanha repercussão contra o jogador, promovida pela indignação das pessoas nas redes sociais e pelos patrocinadores do time que cobraram uma posição do Clube de Futebol Santos, que chegaram a ameaçar de tirar a verba de patrocínio acaso o time não fizesse nada, fez o Santos suspender o contrato que havia feito com o jogador.

 

Depois da repercussão o jogador Robinho concedeu uma entrevista onde ele falou pela primeira vez do caso. Ele negou novamente que tenha ocorrido o crime porque não houve penetração da parte dele, que sexo oral não é sexo, que o que aconteceu lá foi de forma consentida e que o único erro que ele cometeu foi de ter traído sua esposa. E durante a entrevista ele disse também que “Infelizmente, existe esse movimento feminista. Muitas mulheres às vezes não são nem mulheres, para falar o português claro (…)".

 

As declarações do jogador Robinho são tão revoltantes e deploráveis quanto a prática de um estupro coletivo contra uma jovem de 23 anos que está alcoolizada, sem consciência, portanto. Felizmente existe esse movimento feminista no Brasil, que combate estupros coletivos.

 

Raquel Montero